PINTURA A AGUARELA | Pintura

SUSANA MOURÃO

Galeria Espaço Artever
de 13 de Dezembro de 2008 a 12 de Janeiro de 2009


Pedaços de festa
Vou começar por uma dificuldade: falar do trabalho da pessoa mais próxima de nós. Do trabalho da minha filha. Com todas as exigências que isso nos obriga (poderia ter pedido a alguém para o fazer por mim). Mas vou arriscar a imparcialidade. Vou tentar ser distante não o sendo, como é óbvio. Sei que não vou ser rigoroso porque o não sou. Mas vou ser inflexível comigo mesmo. Vou mergulhar no que tenho assistido e sentido.
Para ajudar a resolver esta dificuldade, vou-me socorrer dum conjunto de palavras-chave. Água. Tinta. Cor. Líquido. Pasta. Sólido. Granulado. Pincel. Frasco. Bisnaga. Pastilha. Godé. Papel. Viver os resultados destas palavras-chave só tem uma solução: sentir! E é colhendo os frutos desse sentir, que saboreamos todas as ideias por baixo da pele de cada um desses resultados que nos conduzem. Condução a um modo de ler o que é comunicado, o que está expresso, o que está pintado na transparência do material e do conteúdo.
A produção de aguarelas da Susana começou há algum tempo. Nos anos 90. De início umas quantas experiências. Seguiram-se séries realizadas de rajada, em momentos de libertação quase pura. De início trabalhos com cor mas monocromáticos ou a duas ou três cores. Resultados frios. Depois a explosão. Cor a cores. Resultados frescos, mornos e quentes.
Ambientes de ilustração de um interior. Do seu? Do dos outros? Do nosso? De todos?
É claro que contarão uma história. Que contarão muitas histórias. Mas contam acima de tudo o prazer de se viver um universo de liberdade e de sonho. De tristezas e de alegrias. Sendo trabalhos sem referencial objectivo, deixam-nos um imenso espaço de procura e de construção: o pequeno detalhe que se esconde; a figura dualista; o espaço ambíguo; a arquitectura ou arquitecturas; o cenário; a forma insinuada; a fantasia; a ingenuidade genuína; o desenho complexo mas simples (sempre presente como raiz); a composição libertária só condicionada pela dimensão do suporte; a linha; a mancha; a textura; a cor.
E…
Tudo o mais que se encontre alegremente encerrado nestes pedaços de festa.
Amadora, Dezembro 2008
José Mourão